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Não faça Pokédex! Como criar projetos reais e se destacar no mercado de programação

Por Filipe Bezerra · Publicado em 27/03/2025 às 19:10

Introdução

Há algumas semanas eu fiz um vídeo para o meu canal no Youtube sobre projetos pessoais. No vídeo eu enfatizo que você não deve fazer o projeto da Pokédex, muito menos colocar no seu repositório, e pior ainda no seu currículo.

Comecei a pensar nesse vídeo enquanto refletia sobre por que sou programador. Cheguei a conclusão que quando eu construo algo que resolve uma dor que sinto ou que pode ser usada por outras pessoas e faz diferença no dia a dia delas eu sinto uma satisfação enorme, ou seja, a sensação de criar algo de valor. Sim, também pelo dinheiro, mas acredito que ele é consequência de fazer algo bem e com vontade.

Por causa da pandemia de Covid-19 onde houve aquela contratação frenética de desenvolvedores pelas empresas, muitas vezes não se importando com a qualidade dos programadores, logo os vendedores de curso safados, como diz o Fiasco, ofertavam seus conteúdos com a promessa que ao concluir você estaria apto ao mercado ganhando salários a partir de R$ 3.000,00. Tentador não? 

O pior é que naquele cenário era verdade, o que teve de dev sendo contratado com curso de 6 meses não tava escrito. Na minha visão isso fez com que muitas pessoas transacionassem para essa área visando apenas o salário, e não tinham o que eu considero muito importante para qualquer profissão, a vocação. Não estou dizendo que ter vocação vai fazer de você o melhor profissional, mas pode sim te fazer um profissional melhor. Pelo menos para a minha verdade, fez diferença sobre como eu enxergo o mercado de TI. Inclusive lembro de uma galera da época em que eu cursei ciências da computação que estavam lá por que “gostavam de computador”, na realidade eles gostavam de computadores como entretenimento, e boa parte saiu depois do 2º semestre.

Voltando para o tema deste artigo, algumas pessoas genuinamente se interessam pela área, mas depois que a bolha estourou, a régua de corte para contratações subiu ao que era antes da pandemia, isso dificultou ainda mais a entrada de novos programadores. Como entrar no mercado com um nível tão alto de exigência? Bem, eu só conheço três formas: 1) estágio, mas você precisa estar matriculado num curso de graduação; 2) indicação, o que também não garante muita coisa; 3) projetos próprios que demonstram suas habilidades ao recrutadores, sendo o último que vou abordar aqui.

Se você reparar todo curso sempre tem aquele projeto que o instrutor elabora para que os alunos possam implementar o conteúdo, e no fim, dependendo do nível de popularidade desse curso, muitas pessoas criam os mesmo projetos (clone do Nubank não me deixa mentir!). Acontece que isso não gera valor algum para o seu repositório na visão dos recrutadores. No caso do curso do Flutter, que era incentivado pelo próprio Nubank, teve ainda um impacto negativo ao meu ver, quem não acompanhou os noticiários de criminosos usando esse aplicativo para aplicar golpe nos comerciantes com comprovantes falsos? Inclusive esse foi um motivos que me fez desenvolver o Pix Verifier.

Era muito comum eu navegar pelo Github e encontrar diversos perfis com repositórios idênticos, então o primeiro ponto a ser falado aqui é faça projetos reais.

Projetos reais

O que eu quero dizer com projetos reais? Bem, quando eu comecei a me aventurar no mundo da programação lá pela minha adolescência, conheci um projeto open source chamado Mirage Source, no quase extinto, mesmo na época, Microsoft Visual Basic 6. Tratava-se de uma engine de criação de jogos onde você poderia criar seu próprio MMORPG 2D. Cara eu virei noites lendo aqueles códigos pra aprender como funcionava, comecei traduzindo para o português, com isso fui entendendo a linguagem e depois de alguns meses já estava conseguindo resolver alguns bugs e compartilhando no fórum da comunidade.

Na mesma época, meu pai estava trabalhando como representante da CIMED, uma indústria farmacêutica, e naquele momento ainda não havia a popularização dos smartphones e tablets, então os pedidos tinham que ser enviados por e-mails. Meu coroa não tem habilidades com computadores, na verdade ele odeia, mas foi obrigado a aprender mesmo que precariamente por causa do trabalho, por isso demorava muito tempo para enviar os pedidos, eu sentia que precisava fazer algo para facilitar ou pelo menos tornar menos penosa a experiência dele.

Desenvolvi um programa onde eu cadastrei todos os produtos e clientes, dessa forma ele gerava os pedidos e enviava automaticamente por e-mail. Isso acelerou muito o trabalho dele e me deu uma satisfação enorme! Sem falar no conhecimento adquirido, aprendi SQL, protocolos TCP/IP para envio de e-mails e muito mais.

Então quando eu falo de projeto real, é alguma dor que você consegue resolver com software. Eu sei que a Pokédex vai te ensinar sobre APIs, infraestrutura e talvez segurança, mas isso não mostra a sua capacidade de resolver problemas reais, não tem valor nenhum para o recrutador que está vendo seu repositório.

Mas o que desenvolver?

Essa é uma dúvida que vejo com bastante frequência, uma habilidade que desenvolvi com o tempo foi prestar atenção ao meu redor. Um exemplo pessoal: tenho um problema que na drogaria da minha família ocorre falta de energia com certa frequência, e quando isso ocorre os computadores ficam inutilizáveis pois o no-break não funciona por muito tempo. 

Para não perder vendas eu preciso manter impressa uma lista com todos os produtos e preços. O problema disso é que não é nada prático, e como os preços dos medicamentos são bastante dinâmicos essa lista fica desatualizada muito rapidamente. Além disso preciso ter um livro caixa manual para anotar as vendas e posteriormente lançar no sistema, gerando retrabalho.

Deu para perceber como um novo projeto acabou de surgir? E se fizesse o mesmo curso de Flutter eu teria um projeto completamente diferente? Quem teria mais destaque para um recrutador? Eu, com um projeto real, ou alguém com uma cópia do app do Nubank?

Imagem animada meme do homem tocando na cabeça

Você vai errar, e muito!

Desenvolver projetos próprios significa errar bastante. Você vai encontrar erros cabulosos, vai se frustrar e vai aprender que programar é desafiador. Lembra daquele projeto no seu curso que deu tudo certo de primeira? Pois é, porque ele foi feito pra ser assim, cuidadosamente construído pelo seu mentor para te frustrar o mínimo possível e acredite, isso não é bom. Eu aprendi muito mais com as coisas que deram errado do que com as que deram certo de primeira. Você não ficar puto quando os problemas aparecem perde boa parte do prazer quando conseguir fazer funcionar direito, programar não é fácil, acostume-se com isso.

I hate programming... I love programming

Considerações finais

Por fim eu quero te convidar a fazer a mesma reflexão que eu fiz, por que você é ou quer ser um programador? Somos solucionadores de problemas, nossa função é resolver dores com soluções tecnológicas. Será que você não consegue ver ninguém ao seu redor, ou até você mesmo, com um problema que pode ser resolvido com tecnologia? Hoje cada vez mais, ser programador é menos sobre escrever código e mais sobre entender as necessidades das pessoas.

Se você concorda ou discorda do que escrevi, deixe seu comentário para enriquecer essa discussão!


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